Entre silêncio e pigmento

Um regresso breve: o ateliê falou mais alto e o silêncio serviu para criar.

Depois do barulho, fica o silêncio do ateliê.

“Há momentos em que o silêncio é a única forma de trabalhar.” — HMad

Já há algum tempo que não escrevia por aqui. Mea culpa.
Mas às vezes o ateliê fala mais alto — e o blog, coitado, tem de esperar a sua vez na fila.

O trabalho para as exposições acabou por se multiplicar: uma em novembro, outra em dezembro.
Duas frentes, dois ritmos, e o mesmo par de mãos a tentar dar conta do recado.

Entre telas, cor e café frio, o tempo simplesmente evaporou-se.
Mas é bom sinal: significa que a matéria ganhou vida, que o silêncio serviu para criar.

👉 Conclusão de café: não estive ausente — estive ocupado a preparar o barulho certo.

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Conversas de Café, Bilingue PT/EN Hugo Madeira Conversas de Café, Bilingue PT/EN Hugo Madeira

As Cores Que Brigam Entre Si

A teoria da cor é uma coisa. A relação dramática entre as cores na paleta de um artista é outra, muito mais divertida.

"As cores, como as características, seguem-se umas às outras pela oposição."
— Vincent van Gogh

A teoria da cor é clara. Fala-nos de cores complementares, de harmonia e de contrastes que se equilibram. Tudo muito bonito.

O coração do artista, esse, é outra coisa.

Há cores que, no papel, são uma dupla de sonho. Mas na tela, são como dois primos numa festa de família que se evitam mutuamente. O amarelo-limão acha o roxo demasiado dramático. O verde acha o vermelho uma vedeta insuportável.

E depois há o maior drama de todos: o azul e o laranja. A teoria diz que são complementares, o casal perfeito. A realidade na tela? É uma discussão de casais em directo. Um quer ser o céu sereno, o outro quer ser o pôr-do-sol explosivo. E no meio fica o pobre artista a tentar fazer de conselheiro matrimonial.

No final, a tela é a verdadeira terapia. É onde as cores se podem dar ao luxo de se odiar, de gritarem uma com a outra, e onde essa briga, pasma-te, cria a coisa mais bela de todas: a vida.

👉 Conclusão de café: Na tela, como na vida, as melhores histórias vêm sempre dos conflitos mais coloridos.

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Conversas de Café, Bilingue PT/EN Hugo Madeira Conversas de Café, Bilingue PT/EN Hugo Madeira

A Exposição Vai Chegar Mais Cedo (E Fica Mais Tempo)

A minha próxima exposição foi antecipada para 1 de Novembro e prolongada até 31 de Dezembro. Um sprint criativo pela frente.

"A arte, como a vida, acontece num ritmo que lhe é próprio.”— HMad

Pois é. A exposição que estava marcada para Dezembro decidiu dar um salto no tempo.

“O Galeria” ligou com novidades. A abertura foi antecipada e a duração expandida. O novo mapa é este: a exposição inaugura a 1 de Novembro e encerra a 1 de Janeiro. Dois meses completos, em vez de um.

Isto muda a paisagem criativa por completo.

E, ao contrário do que se possa pensar, não se tornou numa maratona. Tornou-se num sprint. Um sprint mais curto e intenso para chegar a 1 de Novembro com tudo pronto. A adrenalina é outra. A pressão também. Mas a recompensa é clara: depois da inauguração, há dois meses inteiros para as obras respirarem, longe da loucura natalícia de Dezembro, e serem vistas na calma de Janeiro.

Quanto ao que estou a preparar? Essa conversa fica para as próximas semanas. Ainda não há sneak peeks para mostrar, só a certeza de que a antecipação vai trazer uma energia diferente para as telas.

Vai passando por aqui. As novidades chegam assim que eu as tiver.

👉 O resto é conversa de mesa de café: Um sprint agora para uma longa conversa depois. O plano é bom.

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5 artistas contemporâneos que reinventaram o uso da cor

 Cinco artistas contemporâneos que transformaram a cor em linguagem, experiência e atitude.

Tubos de tinta em revolta cromática.

“A cor é o lugar onde o nosso cérebro e o universo se encontram.” — Paul Klee

Toda a gente fala de Van Gogh, Matisse e Rothko quando o tema é cor. Mas e os artistas de hoje? Não vivem na sombra: reinventam a cor como linguagem, experiência, até como provocação. Eis cinco nomes que devias ter na ponta da língua no próximo jantar artístico.

Olafur Eliasson
Não pinta, mas pinta com luz. As suas instalações transformam salas em pôres do sol artificiais e névoas coloridas. Para ele, a cor não é tinta: é ambiente.

Anish Kapoor
Se já viste aquele preto que engole o olhar (o famoso Vantablack, e a polémica à volta dele), sabes do que falo. Kapoor não usa cor como decoração, mas como poder absoluto.

Yayoi Kusama
Polka dots, infinitos espelhados e salas que parecem saídas de um delírio pop. Kusama transformou a cor em obsessão repetitiva — e nisso encontrou a sua liberdade.

Sean Scully
Parece “só” geometria, mas é poesia em blocos. As suas faixas de cor respiram, vibram, quase se movem. A abstração dele é quente, não clínica.

Cecily Brown
Pinta como quem mergulha no caos. As cores explodem, borram-se, misturam-se em gestos furiosos. É pintura que não pede licença para entrar.

👉 Em bom português: a cor nunca foi só estética — é também atitude. Estes cinco provam que ainda pode reinventar-se a cada geração.

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O drama criativo: pó de madeira e caras de teimosia

O drama criativo: quando a matéria insiste em não colaborar com os planos do artista.

Entre pó, ferramentas e teimosia.

Às vezes o ateliê parece cena de tribunal: eu argumento, a madeira responde. Imagino fluidez, ela insiste em devolver arestas.

O resultado está aqui — entre pó, ferramentas e cara feia que nasceu do bloco quase por teimosia.

👉 Moral artística da novela: o artista não vence a matéria — só negoceia tréguas temporárias.

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Antes da primeira pincelada

A pintura não começa na tela, mas no silêncio que prepara o espaço para que a obra aconteça.

Silêncio antes da criação.

“Não é o pintor que escolhe o quadro, é o quadro que escolhe o pintor.” — Georges Braque

Muita gente pensa que a pintura começa no instante em que o pincel toca a tela. Como se fosse magia imediata: cor → tela → obra.
Mas para mim, começa muito antes. No silêncio. No vazio. Naquele espaço invisível onde a obra decide se quer nascer.

O que vem antes
Cada série pede a sua própria lógica. Já vi telas transformarem-se em fragmentos de memória, em corpos a dançar, em territórios por explorar. Nunca repito o caminho. Cada exposição obriga-me a desaprender e a inventar uma nova forma de pensar.

É aí que mora o risco: entrar numa floresta que nunca percorri, sem mapa, sem garantia de saída. E, claro, com a esperança teimosa de que no fim haja luz.

Ordem e caos à mesa
Posso traçar planos, esboçar ideias, encher cadernos de notas. Mas chega a hora da verdade: a cor escolhe o seu destino, o gesto impõe-se, o quadro responde. E eu? Eu sigo.
É nesse fio tenso entre ordem e caos que a obra se revela — e, às vezes, me surpreende mais do que a ti.

O verdadeiro segredo
Talvez a chave não esteja em dominar a pintura. Talvez seja apenas isto: preparar o espaço para que ela aconteça. Como quem abre uma clareira e espera que a luz atravesse.

👉 Conclusão de café: a pintura não começa na tela, mas no espaço que abrimos para que ela exista. E em Dezembro vou abrir esse espaço contigo.

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Por que ainda falamos de Van Gogh?

Van Gogh continua a falar connosco porque a sua pintura grita urgência, dor e beleza — tudo o que a arte precisa.

Vincent van Gogh, “Two Cut Sunflowers” (1887). The Phillips Collection, Washington, DC. Imagem em domínio público via Wikimedia Commons.

“Eu sonho a minha pintura e pinto o meu sonho.” — Vincent van Gogh

Fala-se de Van Gogh como se fosse um velho amigo. E, de certa forma, é. Tu conheces o chapéu de palha, os girassóis, a orelha, as cartas ao irmão Theo. Mesmo que nunca tenhas posto os pés num museu, já te cruzaste com ele.

Mas porquê esta obsessão coletiva?

A tragédia vende (e muito)
Van Gogh é o rockstar original da pintura: pobre, incompreendido, suicida. Viveu na miséria, morreu cedo, não vendeu quase nada em vida. O resto da história já sabes — o mercado e a crítica transformaram-no em lenda. A cultura adora mártires.

A cor que grita
Olha para um quadro dele e diz-me que não ouves som. O amarelo dos girassóis parece cuspir luz. O céu estrelado não é céu, é música em óleo. Há ali uma intensidade que atravessa o tempo, quase sem tradução.

O mito da autenticidade
Na era dos filtros do Instagram e dos currículos polidos no LinkedIn, Van Gogh funciona como contraponto. O “louco genial” que não fingia. Que queimava por dentro e atirava as brasas para a tela. Verdade ou construção romântica? Tanto faz. Funciona.

E tu, onde entras?
Falamos de Van Gogh porque precisamos de alguém que nos lembre que a arte não é só mercado, não é só técnica, não é só “bom gosto”. É excesso, é dor, é beleza que incomoda.

👉 Moral artística da novela: Van Gogh é o lembrete de que a arte, para ser arte, tem de ser urgente.

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As frases mais sarcásticas sobre arte de sempre

 Cinco frases sarcásticas sobre arte que valem mais do que muitas críticas sérias.

 “Arte à parte, primeiro o prato.”

“A pintura é fácil quando não sabes como, mas muito difícil quando sabes.” — Edgar Degas

Introdução
Nada como um pouco de sarcasmo artístico para começar a semana. Eis um top de frases que dão vontade de rir… e às vezes de chorar.

As pérolas

  1. “A escultura é o que você tropeça quando dá um passo atrás para ver uma pintura.” — Barnett Newman

  2. “A arte é o pretexto mais caro para evitar trabalhar.” — Georges Braque

  3. “A única coisa que me interessa em Paris é a comida.” — Pablo Picasso

  4. “A crítica é como uma lâmpada elétrica: ilumina, mas queima se te encostares.” — Salvador Dalí

  5. “Um artista é como um caracol: carrega a casa às costas e deixa rasto.” — Francis Bacon

Fecho
👉 O resto é conversa de mesa de café — mas com mais ironia pendurada na parede.

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10 coisas que um pincel pensa quando está esquecido num copo de água

O diário secreto de um pincel esquecido: 10 pensamentos trágico-cómicos que nunca mais vais conseguir “desouvir”.

Tu esqueces o pincel no copo de água. Para ti é só distração… mas para ele é tragédia. Entre bolhinhas e tinta diluída, o pincel vive um drama que nunca chega às galerias.

10 pensamentos molhados de um pincel esquecido

  1. Isto não é spa, é tortura medieval.

  2. Se eu fosse vinho, já me tinhas resgatado.

  3. Estou a dissolver-me… adeus dignidade.

  4. Olha que giro: bolhinhas! … espera, isto sou eu a morrer.

  5. A vizinha escova está a gozar comigo.

  6. Quem precisa de terapia aqui sou eu, não tu.

  7. Quando secar, vais chorar por cada linha fina perdida.

  8. Se ao menos tivesse sido lápis… eles nunca se afogam.

  9. Chamam a isto processo criativo? Parece mais um castigo do IKEA.

  10. A próxima vez, deixa-me no cavalete… ao menos morro de pé.


    👉 Em bom português: o que interessa é isto — nunca subestimes o drama de um pincel molhado.

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5 coisas que nunca devias dizer a um artista

Cinco frases que parecem inofensivas, mas que podem deixar um artista à beira de atirar o pincel pela janela.

“Um artista é alguém que vende o que já não tem.” — Picasso (com a sua fina ironia, claro)

Todos temos aquele amigo que acha que está a ser simpático… mas diz a frase errada.
Se queres evitar olhares mortais e silêncios constrangedores, aqui ficam 5 pérolas que nunca devias soltar a um artista:

  1. “Isso dá para viver?”
    (Ah, obrigado pela preocupação… agora vou ali comer a minha tela com molho de acrílico.)

  2. “Mas quanto tempo é que isso demorou?”
    (Como se o valor estivesse no cronómetro e não na criação. Spoiler: não é Uber Eats.)

  3. “O meu filho também faz igual.”
    (Parabéns ao teu filho. Talvez ele seja um génio. Talvez tu não percebas nada.)

  4. “Fazes-me um desconto?”
    (Sim, claro, e tu no teu trabalho aceitas metade do salário, não é?)

  5. “Isso eu também fazia.”
    (Então… porque é que não fizeste?)

👉 Conclusão de café
Respeita o artista, aprecia a obra e, se não tens nada de inteligente para dizer, elogia a cor…

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