Entre silêncio e pigmento
Um regresso breve: o ateliê falou mais alto e o silêncio serviu para criar.
Depois do barulho, fica o silêncio do ateliê.
“Há momentos em que o silêncio é a única forma de trabalhar.” — HMad
Já há algum tempo que não escrevia por aqui. Mea culpa.
 Mas às vezes o ateliê fala mais alto — e o blog, coitado, tem de esperar a sua vez na fila.
O trabalho para as exposições acabou por se multiplicar: uma em novembro, outra em dezembro.
 Duas frentes, dois ritmos, e o mesmo par de mãos a tentar dar conta do recado.
Entre telas, cor e café frio, o tempo simplesmente evaporou-se.
 Mas é bom sinal: significa que a matéria ganhou vida, que o silêncio serviu para criar.
👉 Conclusão de café: não estive ausente — estive ocupado a preparar o barulho certo.
Antes da primeira pincelada
A pintura não começa na tela, mas no silêncio que prepara o espaço para que a obra aconteça.
Silêncio antes da criação.
“Não é o pintor que escolhe o quadro, é o quadro que escolhe o pintor.” — Georges Braque
Muita gente pensa que a pintura começa no instante em que o pincel toca a tela. Como se fosse magia imediata: cor → tela → obra.
 Mas para mim, começa muito antes. No silêncio. No vazio. Naquele espaço invisível onde a obra decide se quer nascer.
O que vem antes
 Cada série pede a sua própria lógica. Já vi telas transformarem-se em fragmentos de memória, em corpos a dançar, em territórios por explorar. Nunca repito o caminho. Cada exposição obriga-me a desaprender e a inventar uma nova forma de pensar.
É aí que mora o risco: entrar numa floresta que nunca percorri, sem mapa, sem garantia de saída. E, claro, com a esperança teimosa de que no fim haja luz.
Ordem e caos à mesa
 Posso traçar planos, esboçar ideias, encher cadernos de notas. Mas chega a hora da verdade: a cor escolhe o seu destino, o gesto impõe-se, o quadro responde. E eu? Eu sigo.
 É nesse fio tenso entre ordem e caos que a obra se revela — e, às vezes, me surpreende mais do que a ti.
O verdadeiro segredo
 Talvez a chave não esteja em dominar a pintura. Talvez seja apenas isto: preparar o espaço para que ela aconteça. Como quem abre uma clareira e espera que a luz atravesse.
👉 Conclusão de café: a pintura não começa na tela, mas no espaço que abrimos para que ela exista. E em Dezembro vou abrir esse espaço contigo.